Militares
se insurgem contra um governo instituído.
A
pergunta é incômoda. Principalmente no contexto atual, em que o
Brasil é governado por um grupo que foi derrotado pelos militares a
exatamente cinquenta anos. Mas a resposta é SIM. Não há
dúvida, quando em 15 de novembro de todos os anos comemoramos a
proclamação da República, comemoramos um golpe militar bem
sucedido.
Sim,
é verdade, o Brasil republicano nasceu de um golpe militar.
Vamos
retroceder só um pouco. Depois da Abdicação de D. Pedro primeiro a
importância dos militares foi caindo. A participação das tropas na
repressão de agitações populares após a Independência,
contribuiu para que elas fossem olhadas com desconfiança pela
sociedade, e a Guarda Nacional passou a ter mais status e importância
política do que as forças armadas, principalmente o exército. Às
vésperas do golpe Deodoro foi informado que o império pretendia
ampliar a ação da Guarda Nacional, dando-lhe inclusive poder de
polícia no Rio de Janeiro.
Interrompo
aqui apenas para perguntar: Nota alguma coisa similar ao contexto
atual do Brasil? Repressão de agitações populares, guarda nacional
com poder de polícia. Será verdade que a história sempre se
repete?
Não
tardou para que os militares, desprestigiados, se envolvessem em uma
grande conspiração contra o governo constituído. Não existia no
Brasil uma maioria que desejava que o país fosse se livrasse da
Monarquia, nem entre os militares existia consenso sobre isso.
Quase
não houve também participação de generais na conspiração,
afinal, estavam no topo da pirâmide, com seus cargos de confiança e
regalias palacianas. O único general que participa ativamente desde
o início foi o Marechal Deodoro. Floriano Peixoto se recusou a
participar da conspiração. Eduardo Wandenkolk, da Marinha,
decidiu apoiar depois de algum tempo.
Como
naquele tempo somente oficiais tinha cursos superiores, e uma
formação científica, somente estes participaram ativamente na
conspiração. Eram basicamente um grupo de oficiais de patentes
inferiores do Exército, que possuíam educação superior ou
“científica”, obtida durante o curso da Escola Militar, então
localizada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Um dos seus
professores era Benjamin Constant. Todas as fontes disponíveis sobre
o 15 de Novembro destacam a liderança que Benjamin Constant exercia
sobre a "mocidade militar" da época. Ele teria sido o
"mestre", "líder", "catequizador" ou
"apóstolo" desses militares.
Para
vários autores, principalmente os vinculados à tradição
positivista, Benjamin Constant e seus jovens liderados teriam sido o
principal elemento na conspiração. Mas para outros, foi a mocidade
militar que influenciou Constant a liderá-los na ousada e arriscada
empreitada. Esses jovens militares eram na verdade cientistas
fardados, conhecedores de filosofia e adeptos da meritocracia, algo
raro em um regime monárquico que vendia patentes na guarda nacional
e títulos de nobreza.
A
despeito de sua formação de altíssima qualidade os jovens
militares eram preteridos em status e tinham que lutar muito para
ascender em uma sociedade liderada pelos bacharéis, oriundos de
famílias abastadas. Os principais cargos do império eram civis,
obtidos de forma extremamente elitista, e tinham postos altamente
remunerados e valorizados. Já os militares, que tinham uma seleção
mais democrática e uma formação bem mais técnica e científica,
não eram valorizados profissionalmente nem recebiam reconhecimento
político, social ou econômico. A ascensão na carreira militar era
difícil e baseada em critérios subjetivos, não no mérito e
antiguidade, como é hoje.
O
clube militar foi importantíssimo na questão republicana porque
conferiu a empreitada republicana o status de ser apoiada pela
“classe militar”. Ressalte-se que o clube não era considerado
ponto de encontro, ou uma pomposa sociedade recreativa, era apenas um
local onde os militares se reuniam quando precisavam discutir algo
importante. No dia 9 de novembro, dia que os militares se reuniram e
endossaram a liderança de Benjamim Constant e Deodoro no golpe
republicano, a nobreza imperial se reunia na ilha fiscal, sem saber
que aquela seria sua última festa.
Note-se
que no final da reunião Constant pediu que “lhe fossem dados
plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas
incompatível com sua honra e dignidade…”. Constant disse ainda
que: “se fosse malsucedido quebraria até sua espada”.
Quintino
Bocaiuva e Aristides Lobo, unidos à conspiração, deram-lhe um ar
mais político. Eduardo Wandenkolk, da Marinha também apoiou o
golpe. Foram em frente e em 15 de novembro tornaram o Brasil uma
república.
O
Brasil de hoje existe graças a um golpe militar.
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