Ontem recebemos vários e-mails
nos questionando sobre o fato de divulgarmos as ações de Daciolo em favor das
demandas de militares das Forças Armadas. Nos parece que algumas pessoas, em
pleno sec.XXI, só admitem ser representadas por alguém que corresponda 100% ao
seu posicionamento político. Na visão dessas pessoas, para que Daciolo tivesse
o direito de carregar até o Ministério da Defesa um papel pedindo reajuste para
os militares ou pedindo modificações em planos de carreira, ele primeiro teria
que ser aprovado em algo como um questionário padrão, que o definisse como um
político conservador, ou 100% de direita.
Os militares brasileiros foram
extremamente eficazes na ação que perpetraram para evitar que o Brasil de tornasse
um país comunista. Essa ação com toda certeza também livrou as Américas como um
todo da fúria stalinista que se alastrava pelo planeta. Contudo, passaram-se já
mais de 50 anos desde 1964, e o Brasil não precisaria reviver nessa década, em
pleno sec. XXI, uma espécie de guerra fria. Ha pessoas que enxergam o Brasil de
forma extremamente maniqueísta, acham que todos os eventos estão relacionados a
luta entre o bem e o mal, direita e esquerda.
Hoje o país é governado por um partido
de esquerda, o Comandante em chefe das Forças Armadas é uma militante de
esquerda. O Ministro da Defesa é membro de um partido de esquerda e tem franca
simpatia por personagens que lutaram contra os militares. Essa questão fica muito
mais complicada porque os próprios militares em esmagadora maioria se declaram
anti-esquerda. Se permanecerem durante todo o tempo em uma postura de confronto
contra qualquer um que eventualmente tenha uma ou outra posição que possa ser
interpretada como de esquerda, ou progressista, qualquer negociação falece
ainda na gestação.
Ainda que o PSOL se auto-denomine
como antro da esquerda pensante, certamente por ânsia de votos, permitiu que o
Cabo Daciolo concorresse debaixo de sua sigla. Daciolo é um militar com
convicções que não se alinham com a esquerda e muito menos com a direita.
Benevenuto Daciolo parece ter uma postura independente, não construída cm base
em paradigmas políticos. Ele com toda certeza não age de acordo com uma receita
prescrita de posicionamento político.
Na verdade nenhuma pessoa sensata
age de acordo com receitas pré-escritas há mais de 50 anos, construídas em
contextos completamente diferentes. Nem mesmo aqueles que são vistos como
radicais agem assim. Flavio Bolsonaro, deputado carioca, da família Bolsonaro,
considerada radical de direita, luta pela flexibilização dos regulamentos da
polícia militar. É uma postura progressista, nada conservadora. Será agora
odiado pela “direita” por isso?
Temos que estar atentos, as
coisas se modificaram. De algumas décadas para cá o esquerdismo deixou de ser
apenas um posicionamento político-econômico, e passou a se definir, acima de
tudo, como a defesa de pautas culturais progressistas. O sujeito a defender não
é mais o proletariado, agora a esquerda patrocina minorias, negros, gays, empregados
oprimidos e todos aqueles que se auto-declaram como perseguidos, prejudicados
etc.
Daciolo essa semana declarou,
para ódio das camadas superiores das Forças Armadas e Auxiliares, que defende
uma carreira única para os militares. É tudo uma questão de ponto de vista. Para
a oficialidade da polícia carioca, a posição do cabo é quase uma ofensa, e
revanchista. Para os graduados é uma proposta justa. O deputado acredita que
todos deveriam ingressar como soldados com chances iguais de ascender até os
maiores postos. Esse é o tipo de posicionamento caracterizado como esquerdista,
revolucionário. A visão é a mesma quando se observa o que ocorreu no inicio de
junho, quando o referido deputado visitou quartéis de bombeiros por todo o
estado do Rio, conversando com militares graduados.
Em Campos Daciolo chegou a prestar
queixa em uma delegacia, o comandante da unidade não permitiu que entrasse.
Por outro lado, Daciolo defende
que o Ministério da Defesa seja ocupado por um militar. Em entrevista declarou,
em relação a descriminalização do aborto, o casamento civil igualitário e a
legalização da maconha, que sua posição seria de acordo com a Bíblia
sagrada. O cabo – deputado também é contra a desmilitarização das polícias. E ainda essa semana iniciou a tramitação de
sua PEC que coloca Deus na Constituição Federal. Essas posições poderiam ser
vistas como bastante conservadoras não é mesmo?
O militar – subalterno – cristão -
deputado assume vários posicionamentos, que juntos não se enquadram em nenhuma
categorização política. Exactamente como qualquer brasileiro da atualidade.
Nessa quarta-feira, o deputado, que
defende a PEC 300 e também policiais acusados de assassinar o Amarildo, após
votar contra a redução da maioridade penal foi atacado duramente por militares nas
redes sociais, o que o fez publicar uma resposta.
“As minhas convicções sobre a Maioridade Penal sempre foram públicas e
sinceras. O meu compromisso é com Deus e com o povo brasileiro. Não me dobrarei
ao sistema corrupto.”
Nesse mesmo dia, em que votou
contra a redução da maioridade penal, o deputado Daciolo liderou uma
concentração de militares das Forças Armadas.
Até Daciolo “aparecer” há alguns
meses, os militares tinham Jair Bolsonaro como seu principal ‘porta-voz”. Mas,
como Bolsonaro é persona non grata
nos corredores “esquerdistas” do planalto, parece que, por uma questão obvia,
ele permaneceu longe das negociações salariais. Parlamentares, por força do
artigo 61 da CF1988, não podem apresentar projetos para reajustes salariais e
planos de carreira para militares federais. A única coisa que podem fazer é
pressionar politicamente o governo para que apresente uma proposta a ser votada
no congresso.
No último mês Daciolo convocou
ativa e reserva para uma manifestação em frente ao Congresso Nacional, conseguiu
reunir quase 300 pessoas. Essa foi a primeira convocação de que se tem notícia
para militares da Ativa e Reserva comparecerem a uma reunião pública. Mesmo sabendo
que Ativa e Reserva foram convocados, Jaques Wagner considerou o movimento como
legal e até mandou um representante até o local para ouvir as queixas dos
militares.
Como não houve nenhum sinal de
repressão, certamente nos próximos eventos haverá mais pessoas.
Em relação a representação
política é preciso inteligência. Não se pode descartar alianças importantes por
que determinado político infringiu uma única regra da nossa longa lista de
expectativas políticas.
Robson A. DSilva /
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