7 de fevereiro de 2014

Militares se insurgem contra o governo instituído.

Militares se insurgem contra um governo instituído.

 A pergunta é incômoda. Principalmente no contexto atual,   em que o Brasil é governado por um grupo que foi derrotado pelos militares a exatamente cinquenta anos. Mas a resposta é SIM. Não há dúvida, quando em 15 de novembro de todos os anos comemoramos a proclamação da República, comemoramos um golpe militar bem sucedido. 
Sim, é verdade, o Brasil republicano nasceu de um golpe militar.
   Vamos retroceder só um pouco. Depois da Abdicação de D. Pedro primeiro a importância dos militares foi caindo. A participação das tropas na repressão de agitações populares após a Independência, contribuiu para que elas fossem olhadas com desconfiança pela sociedade, e a Guarda Nacional passou a ter mais status e importância política do que as forças armadas, principalmente o exército. Às vésperas do golpe Deodoro foi informado que o império pretendia ampliar a ação da Guarda Nacional, dando-lhe inclusive poder de polícia no Rio de Janeiro.
   Interrompo aqui apenas para perguntar: Nota alguma coisa similar ao contexto atual do Brasil? Repressão de agitações populares, guarda nacional com poder de polícia.  Será verdade que a história sempre se repete?
   Não tardou para que os militares, desprestigiados, se envolvessem em uma grande conspiração contra o governo constituído. Não existia no Brasil uma maioria que desejava que o país fosse se livrasse da Monarquia, nem entre os militares existia consenso sobre isso.
   Quase não houve também participação de generais na conspiração, afinal, estavam no topo da pirâmide, com seus cargos de confiança e regalias palacianas. O único general que participa ativamente desde o início foi o Marechal Deodoro. Floriano Peixoto se recusou a participar da conspiração. Eduardo Wandenkolk, da Marinha, decidiu apoiar depois de algum tempo.
   Como naquele tempo somente oficiais tinha cursos superiores, e uma formação científica, somente estes participaram ativamente na conspiração. Eram basicamente um grupo de oficiais de patentes inferiores do Exército, que possuíam educação superior ou “científica”, obtida durante o curso da Escola Militar, então localizada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Um dos seus professores era Benjamin Constant. Todas as fontes disponíveis sobre o 15 de Novembro destacam a liderança que Benjamin Constant exercia sobre a "mocidade militar" da época. Ele teria sido o "mestre", "líder", "catequizador" ou "apóstolo" desses militares.
   Para vários autores, principalmente os vinculados à tradição positivista, Benjamin Constant e seus jovens liderados teriam sido o principal elemento na conspiração. Mas para outros, foi a mocidade militar que influenciou Constant a liderá-los na ousada e arriscada empreitada. Esses jovens militares eram na verdade cientistas fardados, conhecedores de filosofia e adeptos da meritocracia, algo raro em um regime monárquico que vendia patentes na guarda nacional e títulos de nobreza.
   A despeito de sua formação de altíssima qualidade os jovens militares eram preteridos em status e tinham que lutar muito para ascender em uma sociedade liderada pelos bacharéis, oriundos de famílias abastadas. Os principais cargos do império eram civis, obtidos de forma extremamente elitista, e tinham postos altamente remunerados e valorizados. Já os militares, que tinham uma seleção mais democrática e uma formação bem mais técnica e científica, não eram valorizados profissionalmente nem recebiam reconhecimento político, social ou econômico. A ascensão na carreira militar era difícil e baseada em critérios subjetivos, não no mérito e antiguidade, como é hoje.
   O clube militar foi importantíssimo na questão republicana porque conferiu a empreitada republicana o status de ser apoiada pela “classe militar”. Ressalte-se que o clube não era considerado ponto de encontro, ou uma pomposa sociedade recreativa, era apenas um local onde os militares se reuniam quando precisavam discutir algo importante. No dia 9 de novembro, dia que os militares se reuniram e endossaram a liderança de Benjamim Constant e Deodoro no golpe republicano, a nobreza imperial se reunia na ilha fiscal, sem saber que aquela seria sua última festa.
   Note-se que no final da reunião Constant pediu que “lhe fossem dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e dignidade…”. Constant disse ainda que: “se fosse malsucedido quebraria até sua espada”.
   Quintino Bocaiuva e Aristides Lobo, unidos à conspiração, deram-lhe um ar mais político. Eduardo Wandenkolk, da Marinha também apoiou o golpe. Foram em frente e em 15 de novembro tornaram o Brasil uma república.
   O Brasil de hoje existe graças a um golpe militar.


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