20 de julho de 2014

Generais, coronéis e sargentos resolveram reagir. Eles pretendem povoar as instâncias decisórias do país. A maioria defende princípios de direita e recuperação salarial dos militares federais e estaduais.



O ano de 2014 foi um ano atípico no que diz respeito ao debate filosófico entre direita e esquerda, nunca antes a Contra-Revolução de 1964 foi tão debatida. Existe certa insistência para que os militares se desculpem por arbitrariedades que teriam cometido durante a repressão e claramente se percebe que ha uma corrida contra o tempo para que militares da reserva sejam punidos pelas ações contra a militância de esquerda nos anos 70 e 80. Os militares, por sua vez, fazem acusações de que ha revanchismo por parte de membros do governo contra as Forças Armadas.
Por força de seus regulamentos e respeito à hierarquia, os militares quase sempre permanecem calados. Mas há momentos em que se foge a regra.
O Tenente- Coronel aviador Mauro Rogério recentemente declarou que acredita que há mesmo revanchismo contra os militares das forças armadas.
Revanchismo. Hoje eu não tenho dúvida existe, existe sim... a gente percebe também um revanchismo revelado quando existe uma diferença de tratamento... ao dado para a polícia militar do Distrito Federal, o dinheiro que sai pra pagar a polícia militar, o bombeiro militar e a polícia civil, é o tesouro nacional, é o mesmo que nos paga. E o plano de carreira deles passa por essa casa pra sanção presidencial... E quando eles estão insatisfeitos fazem a greve...” .
Outro caso notório é o do já conhecido Sargento Feliciano, militar do exército, que serve no Rio, na Escola de Educação Física do Exército. O sargento, ainda na ativa, desceu de rapel da ponte Rio x Niterói, realizando um protesto ousado e inédito. Pouca gente comentou sobre a faixa que Feliciano pendurou na ponte por ocasião de seu protesto. O jornal O Fluminense publicou o que estava escrito: “ Fostes torturada e agora torturas. Vingança?”. Poucos meses depois o mesmo sargento escalou a estátua de Deodoro, tornando de  conhecimento público que os militares federais recebiam apenas 0,16 centavos de salário família. O militar usava uma camiseta com a inscrição: “não é só por 0,16”. Pelo que publicou o jornal O Dia, o sargento foi punido pelos protestos. A capa de um livro que publicou alguns meses após o primeiro ato deixa implícito que ele passou pelo menos alguns dias preso.
Eleitorado significativo
Os militares federais, sem contar as polícias estaduais, que comungam dos mesmos princípios éticos, somam mais de 600 mil cidadãos. Mas, ressalte-se bem, sua parentela e círculos de influência multiplicam esse número por muitas vezes. Militares, são estratégicos formadores de opinião. Com sua conduta sempre ilibada e permanente respeito por parte da sociedade sempre ocupam postos chave, na ativa ou na reserva. Sua oratória é firme e inspira credibilidade, por isso é normal que assumam posições à frente de grupos. É normal encontrar militares como pastores evangélicos, assessores de governantes, secretários de segurança, diáconos em igrejas católicas, líderes comunitários, síndicos etc.

Estimativas de alguns políticos cariocas dizem o eleitorado ligado aos militares soma mais de 1 milhão só no Rio de Janeiro.
Diferente de países vizinhos, como Venezuela e  Bolívia, onde o eleitorado militar assumiu uma postura de esquerda, seguindo a linha dos governantes locais, no Brasil não ocorreu assim. Pelo que tudo indica, os militares, independente de posto e graduação, como eleitorado, são hegemonicamente simpatizantes da direita.
Candidatos Militares
Em 2014 é quase certo que será iniciada a bancada militar no Congresso e nos legislativos estaduais. O currículo dos candidatos militares é invejável, a maioria deles tem formação superior, que se soma a um profundo conhecimento do Brasil e dos problemas que assolam nossa sociedade. Consta da lista do Tribunal Superior Eleitoral pelo menos dois Generais, vários coronéis, outros oficiais, e dezenas de sub-tenentes e sargentos, além de ex-militares e familiares.
Um dos candidatos militares com maior posto concorre por São Paulo, é o General Peternelli, ex-secretário executivo do Gabinete de segurança institucional da Presidência da República. Peternelli é candidato a deputado federal. O militar, que se aposentou há poucos meses, inegavelmente tem larga experiência em administração pública, experiência em gerenciamento de crises e visão bastante aprofundada dos problemas que assolam o país. Outro oficial de alta patente que se candidata por São Paulo é o coronel Marcos Pontes, conhecido como o astronauta brasileiro. Pontes tem um dos currículos mais invejáveis do país e pretende, nas suas próprias palavras, encarar sua função no Congresso como uma missão militar a cumprir.
O Rio de janeiro parece ser o estado que tem mais candidatos ligados aos militares, lá eles somam mais de uma dúzia, entre oficiais e praças (VEJA AQUI). Em Brasília são oito. Em quase todos os estados da federação há pelo menos um militar que pretende ser deputado, federal ou estadual. Pelo que pode se observar, tudo indica que no final do ano o país testemunha a formação da bancada militar no legislativo.
  

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